Moisés com chifres? O que aconteceu a Miguel Ângelo.

Miguel Ângelo e a sua escultura de Moisés com dois chifres
A resposta à pergunta é mais ou menos fácil.Trata-se de um erro de tradução da bíblia que iremos desenvolver neste artigo. Há dois tipos de erros na bíblia: os que resultam da tradução de textos em aramaico ( e não só) e os que foram introduzidos pelos monges copistas propositadamente ou não. Há casos conhecidos de erros que foram introduzidos pelos monges copistas sendo o mais famoso o da mulher adúltera prestes a ser apedrejada, cujo episódio nunca existiu. Segundo especialistas, este episódio foi colocado, por um escriba, no evangelho de João no século 3. As razões para esta adulteração tem que ver com a diferença que se procurava estabelecer entre o cristianismo e o judaísmo. Apedrejar adúlteras é uma das leis que os sacerdotes colocaram no Pentateuco. O cristianismo procurava a diferença, daí ter construído esta história.
Voltemos aos chifres: Após a conversão do imperador Constantino foi imperativo tratar da tradução da bíblia para o latim. O homem escolhido para esta tarefa chamou-se Eusebius Hieronimus, que viria a ser canonizado com o nome de São Jerónimo. Sob as ordens do papa Dâmaso este senhor viajou para Jerusalém para aprender hebraico e traduzir a bíblia. Demorou 17 anos. Produziu a Vulgata que é a bíblia que todos conhecemos.
Ao traduzir uma passagem do Êxodo escreveu "cornuta esse faceis sua" ou seja a sua face tinha chifres. Ora o problema está na tradução da palavra Karan que tanto pode significar raio de luz, como chifre. O bom do nosso Eusebius - o facto de não ser nativo na língua também não ajudou - avançou com a tradução para chifre em vez de raio de luz, vá-se lá saber porquê uma vez que até se trata de um erro grosseiro. A tradução correta veio a ser publicada na Septuaginta, onde se pode ler que o profeta tinha o rosto iluminado e não chifrado. Há uma diferença grande!
Miguel Ângelo era conhecido por ter uma biblioteca fabulosa com livros antiquíssimos. O que o levou a esculpir Moisés desta forma? Será que há alguma mensagem subliminar nesta imagem? Era preciso um nível de cultura muito grande para saber que este erro de tradução tinha sido cometido. Se Miguel Ângelo não tivesse esculpido esta peça e assim perpetuando este erro será que esta história tinha viajado até hoje? Teria sido um erro de tradução ou houve algo mais nesta história? Talvez um novo livro do Dawn Brawn possa explicar isto. Já agora prefiro que o José Rodrigues dos Santos pegue no assunto porque o último livro do Dawn Brawn (Origens) que li foi a pior coisa que li nos últimos tempos. Senti um alívio enorme quando o vendi por 5€.
Já agora, à laia de despedida, o linguista Eugene Nida chegou, na década de 60, a traduzir a palavra sestercios (a antiga moeda romana) para dólares com o objetivo de atrair leitores! 




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